Supermercado em Maceio

03-11-2010 11:33

 Maceió assiste a uma cena inédita. Depois da inauguração do hipermercado Extra, que chegou de São Paulo com a proposta de permanecer com as portas abertas 24 horas, dos Estados Unidos vem o Wal-Mart e prepara a inauguração de mais duas lojas de sua linha Bompreço na cidade. Para os consumidores pode até sobrar prateleiras, mas para os empreendedores locais o que sobra mesmo é preocupação com a chegada de tanto concorrente.


Na última quarta-feira, o vice-presidente da Wal-Mart Brasil, Wilson Mello Neto, esteve em Maceió e apresentou os motivos de tamanha aposta na capital alagoana. O grupo investiu R$ 60 milhões na cidade. “Maceió se torna o destino turístico mais procurado a cada ano, sem falar que 44% da população é ativa na economia”. Sobre a concorrência ele é sucinto: “A disputa é saudável”, considera. “Maceió tem 884 mil habitantes e a nossa meta é levar as lojas para perto do cliente”, explicou.

Mello descarta a idéia de que o Extra provocou a pressa na construção do novo hipermercado, também na avenida Gustavo Paiva, na Mangabeiras, planejado para operar no próximo mês. “Este projeto já existia antes mesmo da Wal-Mart comprar a rede Bompreço, em 2004”, diz ele. Com a aquisição das 118 lojas Bompreço, o grupo norte-americano saltou da 6ª para a 3ª posição no ranking das maiores empresas do setor varejista do Brasil.

Na Ponta Verde, numa rua paralela à avenida Deputado José Lages, onde está instalado hoje o supermercado Palato, funcionando 24 horas para um público refinado, um outro Bompreço está sendo erguido e deve ficar pronto entre abril e maio deste ano. “Lá queremos atender as classes A e B que moram na região. Gostamos de ser uma loja da comunidade”. O horário de atendimento ainda está em estudo, mas é grande a possibilidade de ele também, a exemplo do Palato, permanecer aberto durante todas as horas do dia. Para o Extra, que já pensa em instalar uma segunda loja na região do Tabuleiro do Martins, estrategicamente não é bom ser vizinho de um concorrente do mesmo porte. “Bom mesmo não é”, disse o diretor geral do hipermercado, José Adelson dos Santos. Ele afirma que o grupo Pão de Açúcar, antes de aplicar R$ 30 milhões na capital, já sabia da ampliação das lojas Bompreço em Maceió - que agora somam dez. “Maceió era carente de serviços diferenciados, de opções. Mas digo que a concorrência não representa ameaça, e sim, oportunidade de mostrar quem é o melhor do setor”. Para os comerciantes locais não é bem assim. 

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Wal-Mart aposta em serviços nas novas lojas de Maceió

O novo hiperbompreço, na Mangabeiras, abrirá em março com galeria de 20 lojas, área para degustação de Sushi, cafeteria, espaço para crianças com recreadores, estacionamento coberto para 500 carros, drogaria, padaria, lanchonete, oficina mecânica, lava-rápido, caixas eletrônicos e fraldário com poltronas para amamentação. 

Já no supermercado Bompreço, na avenida Sandoval Arroxelas, Ponta Verde, onde a comercialização será apenas de alimentos, haverá um laboratório para revelação de fotos digitais e analógicas, com confecção de calendários e albuns personalizados. Terá caixas eletrônicos, balcão de frios, drogaria, lanchonete, padaria, cafeteria e área para apreciação de Sushi. 

De acordo com o vice-presidente da Wal-Mart no País, Wilson Mello Neto, o novo supermercado na orla é maior que as lojas do Bompreço no Farol e na Pajuçara. “Além de todos estes serviços, a unidade da Mangabeiras ainda vai contar com o caixa-rápido, onde o cliente, com menos de 30 volumes nas compras, permanece por poucos minutos na fila”, anunciou, frisando que o Hiper Center Magazine, que hoje funciona dentro do Shopping Iguatemi, não será desativado.

Além de mais opções na hora de fazer as compras, o prefeito Cícero Almeida quer firmar parceria com as novas redes de supermercado. “Precisamos fazer intervenções urgentes nas avenidas Dona Constança e Gustavo Paiva. As obras vão facilitar o fluxo dos consumidores rumo aos supermercados”. Ele acredita numa parceria público-privada entre a prefeitura e os empresários da região, que além dos novos supermercados, contará também com um templo religioso. |CS 

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Alagoanos querem espaço em prateleiras

Joaquim Gomes produz cachaça há mais de seis anos. Ele diz que não é fácil conseguir espaço nas prateleiras dos grandes supermercados. “Meu produto é bom, tem qualidade, mas às vezes as exigências são tantas que não tenho como atendê-las”, explica.

Depois de muita negociação, ele conseguiu assinar contrato com o Extra e, na última semana, com o Bompreço. “No Extra”, explica, “me pediram para levar um ‘enxoval’. Até então eu só tinha ouvido falar de enxoval de criança quando nasce ou de mulher quando casa. Depois fiquei sabendo que se tratava de um certo valor em mercadorias”, relata o produtor que também vende a cachaça JG no Unicompra, Via Box e Palato. “Dos produtos vendidos, os supermercados descontam um percentual. É como se fosse o aluguel pelo espaço na prateleira”, diz, ao revelar que os pedidos, até agora, não foram muito expressivos. “Quero entrar nos supermercados mais para divulgar o produto”.

Dos 75 mil produtos à venda no Extra, 35 são fornecidos por alagoanos; no Bompreço, dos 60 mil, são produzidos no Estado 55. Os derivados de leite são maioria. Mas há também a carne suína e o peixe tilápia, de água doce, reproduzido na cidade de Coruripe. “Minha vontade é ver meu produto circular em outros estados. Estar nas prateleiras dos supermercados grandes já é um passo”, acredita Joaquim. 

Com Isis Henriques de Ataíde, trabalham duas pessoas. Ela produz 27 sabores de licor e lançou há cerca de oito anos a marca Licor & Companhia. “A maior dificuldade é a carga tributária. Os supermercados pedem uma quantidade X e às vezes fica inviável produzir por causa do custo que o pequeno produtor tem com embalagem, transporte, importação de matéria-prima”. Isis hoje tem o seu licor no Extra, Via Box, Unicompra, Palato e tenta conseguir, agora, lugar na prateleira do Bompreço.

Marcos Paulo fornece carne de porco para o Extra. “Só não tenho mais condições de crescer no mercado local por falta de incentivos do governo”, reclama. “A gente acaba pagando caro para poder produzir”, diz ele, que mantém uma pocilga no conjunto Benedito Bentes I.

Quando Wilson Mello, vice-presidente da Wal-Mart Brasil, dona das lojas Bompreço, esteve em Maceió para apresentar as duas novas lojas para a imprensa, a vice-prefeita Lourdinha Lyra cobrou espaço para a produção artesanal. “Quando viajo para Madri, vejo nos supermercados as castanholas. O turista poderia comprar o nosso artesanato no Bompreço”. Wilson informou que iria pensar na proposta. CS

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Pequenos demitem para sobreviver

Instalados no Jacintinho, próximo ao viaduto João Sampaio, os supermercados Cesta de Alimentos e Santa Elena sofreram queda nas vendas, provocada pela chegada de um outro vizinho: o hipermercado Extra.

Petrúcio Justino é comerciante há mais de cinco anos no bairro. Dono do Santa Elena, ele diz que teme ser obrigado a fechar as portas de vez. “Todo Natal eu contratava cerca de 100 funcionários temporários, ano passado não deu para contratar ninguém”, diz ele. Nas vendas, Petrúcio calculou queda de 40%. “Hoje não dá nem para pagar as despesas”, revela, ao afirmar que já teve, nos “tempos de vacas gordas”, em torno de 90 empregados, hoje eles não somam mais de 70. “Tive que demitir alguns. Os mais antigos estou dando um jeito de segurar”.

Petrúcio diz que, antes da chegada do Extra, o Bompreço vendia caro e por isso ele tinha vantagem. “Mas agora, com o Extra, o Bompreço foi obrigado a baixar os preços e nós, comerciantes dos bairros periféricos, que sempre tivemos o preço baixo como diferencial, vamos ficar sem saída”, lamenta. “A cada mês a situação fica mais apertada”.

Do outro lado da pista está o Cesta de Alimentos. O gerente Edilson Pantaleão disse que a maior queda no movimento da loja foi registrada no mês de novembro - mês da inauguração do hipermercado Extra. “A queda foi de 12%. Tivemos que segurar as compras para dezembro, o que foi ruim porque dezembro é mês de vender bem”, revelou.

Ele contou que em janeiro e fevereiro as contas ficaram mais equilibradas, mas ainda não foram ideais. “Comparando com anos anteriores, era para a gente vender bem mais”. Edilson diz que perdeu alguns clientes, mas não foram muitos. “Nosso diferencial é aproximação com a comunidade. Conhecemos boa parte dos clientes pelo nome. Nosso atendimento é mais familiar do que o destes grandes supermercados que têm uma recepção fria”. O supermercado Cesta de Alimentos também está presente no Tabuleiro do Martins. Edilson afirma que lá os efeitos da chegada do Extra não foram sentidos. “Não foi registrada nenhuma variação nas vendas da outra loja”. Ao todo, estão empregadas nas duas lojas 130 pessoas. Apesar dos efeitos negativos, a empresa planeja ampliar em 30% as instalações da do Jacintinho, ainda este ano.

Edilson acredita que o efeito negativo do Extra é temporário. “Eles colocam meia dúzia de promoções, mas os demais produtos são vendidos bem mais caros”. Ele acredita que a curiosidade foi a causa do pouco movimento em novembro, mês de inauguração do Extra. Quanto a abertura das duas novas lojas do Bompreço, o gerente do Cesta de Alimentos não se mostrou assustado. “Teremos alguma alteração nas vendas, mas não será representativa. O Bompreço deve atingir pesado mesmo o Extra”.

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Unicompra diz não temer a concorrência

Com treze lojas distribuídas em Maceió, Arapiraca, Palmeira dos Índios, São Miguel dos Campos e Barra de São Miguel, a rede de supermercados Unicompra disse que não sentiu nenhum efeito negativo nas vendas com a chegada do hipermercado Extra em Alagoas. “Onde eles compram, a gente também compra. Não sentimos nenhum efeito com a chegada deles. Não tememos a concorrência”, afirmou o gerente de Marketing, Russijânio Lúcio.

Para ele, o fato de a empresa ser alagoana não garante a fidelidade dos consumidores. “Ser alagoana ajuda”, avalia, “mas não é o bastante. Fundamental mesmo é capacitar o pessoal. O nosso diferencial, na verdade, é o atendimento humanizado”, afirma. Russijânio contou que muito antes de o Extra se instalar em Maceió, as lojas Unicompra já estavam preparadas. “Nós conhecemos o trabalho deles das feiras que participamos em outros estados. Somos uma empresa que não deixa a desejar em local nenhum”, diz ele, ao revelar que é mais difícil competir com os mercadinhos de bairro do que com as grandes redes. “Os pequenos não têm os custos operacionais que temos”, justifica, ao dizer que “com a chegada do Bompreço, alguém vai perder uma ‘fatia’, mas só depois da inauguração saberemos quem”. A Gazeta tentou ouvir o Via Box e o Palato, mas não recebeu retorno.|CS

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"Melhor seria que viessem as indústrias", diz secretário

Para o secretário Municipal de Indústria, Comércio e Agricultura, Rafael Tenório, a chegada dos novos supermercados não é motivo para comemorações. “Os pequenos empresários da cidade já informaram à prefeitura os prejuízos que tiveram com a abertura do Extra”, disse ele. “Estas grandes lojas dizem que empregam, mas acabam provocando o desemprego de muita gente”, criticou. “Melhor seria que viessem as indústrias ou empresas de serviços, aí sim, poderíamos falar em desenvolvimento”.

Ele, que frisou também ser comerciante, “a Carnes e Verdes é nossa”, diz que não existe consumidor em Maceió para tanta oferta. “O cliente começa a migrar. Então, os mais fracos amargam os prejuízos maiores”. Tenório afirma que todos os supermercados da periferia tiveram redução significativa nas vendas no final do ano passado. “Muitas lojas estão demitindo gradativamente”, garante. “Além do mais, o produtor é obrigado a pagar para colocar seu produto na prateleira. Muitas vezes as exigências são tantas, justamente para afastar os pequenos”, disse.

De acordo com a Secretaria da Fazenda (Sefaz), a arrecadação do Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviço (ICMS) é pequena no setor varejista. O ICMS é considerado a maior fonte de renda própria do Estado. “Ano passado, a arrecadação de ICMS nos hipermercados, que são as lojas com mais de 5 mil metros quadrados, representou 0,37% da arrecadação total. Já entre os supermercados, a arrecadação foi de 2,37%”, afirmou o gerente de Controle de Arrecadação da Sefaz, Nilton Medeiros. 

De ICMS, Alagoas arrecadou, entre todos os setores da economia, R$ 1 bilhão. O setor varejista rendeu para o Estado 32 milhões e 967 mil reais. Os campeões são telecomunicações e energia.|CS